sábado, 18 de maio de 2013

Pegada ecológica


Pegada ecológica e social


O ideal que a Carta da Terra propõe para todos é um “modo sustentável de viver”: produzir em consonância com os sistemas vivos, contendo nossa voracidade e dando tempo para que a Terra se regenere e continue a oferecer a nós e à comunidade de vida tudo o que todos precisam.
Para cada pessoa viver, é necessário uma pegada ecológica média geral (2,8 hectares). Mas Europa, EUA, Japão, Índia e China vivem muito acima daquilo que lhes é permitido por seus recursos ecológicos, com uma pegada que chega a 600%. O Planeta suportará?

Quanto aguenta a Terra em sua generosidade ao nos forncecer todas as condições para que possamos viver, nos reproduzir e coevoluir? Não só nós mas toda a comunidade de vida que vai das bactérias aos vegetais e animais?

Ela é um planeta pequeno, finito em seus recursos e já velho. Temos que viver dentro das capacidades de fornecimento e de reposição, próprios da Terra e não ao nosso bel prazer. A espécie homo sapiens/demens ocupou 83% do planeta e consumiu excessivamente a ponto de a Terra já ter ultrapassado em 25% sua capacidade de recarga. A seguir esta lógica, o planeta quebra como qualquer empresa que gasta mais do que ganha.

Como todos extraem da Terra seus recursos para viver, quanto de chão cada um precisa para garantir sua sobrevivência? Quanto de terra produtiva, áre aflorestal, energia, habitação, água, mar, urbanização e capacidade de absorção dos dejetos cada pessoa necessita? A esse conjunto de fatores ecológicos e sociais se chama de pegada ecológica e social, expressão cunhada por Martin Rees e Mathis Wackernagel ao fazerem um estudo sobre o tema para o Conselho da Terra em 1977. Eles tomaram como referência de cálculo o número de hectares necessários para que cada um, cada cidade e cada pais possam viver de forma minimamente decente. O planeta dispõe de 10,8 bilhões de hectares produtivos que é menos que 25% de sua superfície.

Para cada pessoa viver fazem-se necessários pelo menos 2,8 hectares. Esta seria a pegada ecológica média geral.

Como 18% da humanidade consome 80% dos recursos vitais e os hábitos de consumo variam consoante as regiões e as culturas, varia também a porcentagem de hectares per capita usados. Assim a Europa, os Estados Unidos, o Japão, a Índia e a China vivem muito acima daquilo que lhes é permitido por seus recursos ecológicos, com uma pegada que vai de 200% até 600% (é o caso do Japão) de sua biocapacidade nacional. Isto significa que se uma região se apropria de mais hectares para manter seu alto nível de consumo (Norte), a outra deverá forçosamente ocupar menos (Sul). Em outras palavras, o consumo alto de um pais ou região comporta um subconsumo baixo no outro. Por aí se entende a profunda falta de equidade na repartição dos bens e o caráter desigual de todo o processo de produção e consumo mundial.

A biocapacidade total do território brasileiro é de 18.615.000 pontos. A pegada ecológico-social brasileira é de 2,6 hectares. Nossa biocapacidade excede tanto a nossa demanda que o Brasil poderia ser a mesa posta para as fomes e as sedes do mundo inteiro. Mas nos paises notam-se profundas diferenças. Enquanto um habitante de Bengladesh possui uma pegada de 0,5 hectares, a de uma norte-americano é de 9,6. Em outras palavras, se todos os habitantes da Terra tivessem o nível de consumo norte-americano, precisaríamos de três Terras semelhantes a nossa para garantirmos os
recursos energéticos e materiais suficientes. Vivemos, pois, sem nenhuma humanidade e solidariedade. Por isso esse modo de viver é totalmente insustentável e pode levar ecologicamente a Terra a um colapso.

O ideal que a Carta da Terra propõe para todos é um “modo sustentável de viver”: produzir em consonância com os sistemas vivos, contendo nossa voracidade e dando tempo para que a Terra se regenere e continue a oferecer a nós e à comunidade de vida tudo o que todos precisam.

Leonardo Boff ingressou na Ordem dos Frades Menores, franciscanos, em 1959. Professor de Teologia e Espiritualidade em vários centros de estudo e universidades no Brasil e no exterior, além de professor-visitante nas universidades de Lisboa (Portugal), Salamanca (Espanha), Harvard (EUA), Basel (Suíça) e Heidelberg (Alemanha). Esteve presente nos inícios da reflexão que procura articular o discurso frente à miséria e à marginalização com o discurso da fé cristã, gênese da conhecida Teologia da Libertação. 

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